domingo, 25 de setembro de 2011

Quadrinhos para não-leitores

Logo após a entrega do prêmio HQMix, decidi escrever sobre quadrinhos para quem não lê quadrinhos ou para quem não lê nada mesmo.

Não pretendo aqui dar minha opinião sobre os quadrinhos que os amigos leitores leram e conhecem, a ideia é que uma pessoa que não tenha o hábito da leitura caia aqui por acaso, se interesse e compre um Gibi, um livro e descubra um novo prazer.

Vou começar por uma boa notícia! Você não precisa gostar de super heróis, ser um grande-leitor-devorador-de-livros-enormes ou estar disposto a acompanhar 80 números de uma série para ler quadrinhos. Basta querer conhecer algo novo, ou apenas buscar um passatempo para a espera no dentista, na fila do banco ou no metrô (fora do horário de pico, eu sei...).

Eu quando criança lia muito, graças a Vera Toledo, também conhecida como mamãe. Ávida freqüentadora de livrarias, teatros e centro culturais, sempre me carregou para cima e para baixo, me levava em lançamentos de livros, contações de histórias, oficinas de teatro, escrita, pintura, brincadeiras criativas e afins. Uma das coisas que fazíamos com muita freqüência era parar em uma banca bem grande na Vila Madalena para comprar Gibis, a banca era ao lado da casa do Maurício de Souza, eu ficava doida! Eu lia muito a turma da Mônica. Dos personagens mais famosos aos mais esquecidos, das revistinhas pequenas até os almanaques enormes, que traziam também atividades e brincadeiras. Mas de quadrinhos foi isso e só! Nada de Super heróis, Marvel, DC...NADA!

Acontece que, como boa viciada em livros que sou, estou (quase) sempre aberta a sugestões de pessoas interessantes. Eu conheci e casei com um moço bem interessante, o super-mega-blaster-ultra talentoso Eduardo Schaal, e entre suas artes estão também os quadrinhos. Pois é, aí não tinha jeito. Ele estava sempre com quadrinistas-amigos por perto, sabendo de todas as novidades e uma “revistinha” na mão.

Importante dizer que sou muito curiosa. No metrô, ônibus ou café, se vejo alguém com um livro e não consigo descobrir o que a pessoa está lendo, fico com uma curiosidade de doer. Posso me contorcer, perder a estação, deixar algo cair no chão, tudo para saber o que a criatura está lendo.

Na Inglaterra li um número de Last Days of American Crime, ilustrada pelo Greg Tochini. Depois disso voltamos ao Brasil e o Schaal comprou Retalhos do Craig Thompson. Me interessei, li rapidamente e coloquei na minha estante de livros. Ou seja, apaixonei!




Eu descobri nas leituras de quadrinhos adultos uma outra forma de literatura, a interdisciplinaridade com a ilustração, inúmeras possibilidades de interpretação e estudos de narrativa, mas para você pode ser só um passatempo rápido, um incentivo à leitura e as artes. Sim, eu acredito que arte e conhecimento podem tornar uma pessoa melhor.
Como por exemplo meu sobrinho de 15 anos que sempre leu muito, mas a adolescência trouxe alguma preguiça e muitas atividades sociais que o afastaram do mundo dos livros. Dei Retalhos para ele, que também adorou e voltou a ler, de quadrinhos a clássicos.

Um amigo declarou que não consegue sentir prazer ao ler. Lê muito para estudar, é bastante culto, mas ler por prazer, não consigo, diz. Eu defendo a idéia de que ele ainda não leu a coisa certa para ele. Assim como toda panela tem sua tampa, todo livro tem seu leitor e todo leitor tem seu livro. Dei Persépolis de presente de aniversário e não vejo a hora de ter notícias sobre a leitura.



Faço uma pequena lista de sugestões com a esperança de que alguém, em algum canto do mundo, lerá esse post e uma história em quadrinhos. E ao terminar dará um sorriso, daqueles de agradecer por ter tido contato com aquela obra.

Retalhos de Craig Thompson - Infância, adolescência e começo da vida adulta. Literatura sincera, lindos desenhos.
Fun Home de Alison Bechdel - relações familiares tragicômicas, diferenças e semelhanças entre pai e filha.
Bordados e Persépolis de Marjane Satrapi - Conhecer o Irã. Revolução Islâmica, costumes, mulheres, religião e cotidiano.
Kiki de Montparnasse escrita por José-Louis Bocquet e desenhada por Catel Muller – biografia pra gente grande. França, pintura, fotografia, libertinagem, paixões. A musa dos artistas que amamos.
Mesa para Dois de Fabio Moon e Gabriel Bá – história bem contada, fofa! Um escritor, e dois jovens que se dividem entrem sonhos e o trabalho de garçom e garçonete, se conhecem e passam a se relacionar.
Clic, Kama Sutra, O Perfume do invisível de Milo Manara - ação, emoção, sacanagem e mulheres muito, muito lindas!
Cachalote de Daniel Galera e Rafael Coutinho - Personagens em confronto. Solidão e afeto. Seria um ótimo filme, é uma excelente história em quadrinhos, literatura de alto nível!

Eduardo Schaal, Karim Camacho e João Petronilho, muito obrigada por todos os quadrinhos que me indicaram :)

quinta-feira, 25 de agosto de 2011

Religiões, Literatura e algumas verdades

Vou começar por algumas verdades; respeito é bom e todo mundo gosta. Mas, e vem aí a segunda verdade; não funciona bem assim. Outra verdade é que não devemos julgar nada nem ninguém, especialmente a religião, fé ou falta destas. Mas também não é isso o que acontece. Católicos falam mal dos espíritas, que falam mal dos evangélicos que falam mal dos ateus que falam mal de todo mundo e assim vai.
Comigo funciona assim, não mexa comigo que também não mexo com você. Pois é, desta vez mexeram comigo.
Tudo começou em um sábado a tarde sem nada para fazer. Prazer novo descoberto, TEMPO LIVRE, não ter obrigações, não estar morta de cansaço e fazer só o que quero. Maravilha! O que fazer? Livraria.
Com meu novo amor pelos autores contemporâneos, posso passar ainda mais horas dentro de uma boa livraria fuçando, lendo trechos, pegando e devolvendo livros nas estantes pensando no tamanho do buraco na minha conta bancária se eu comprasse tudo o que gostaria. Algum tempo depois com um presente e quatro livros para mim fui pagar a conta, também conhecida como "dolorosa".
A Livraria da Vila (da Vila mesmo, nada de shoppings luxuosos e lotadíssimos) costuma ser um lugar muito gostoso desde que me conheço por gente. Tenho lembranças de participar quando criança de várias atividades como oficinas, leituras e brincadeiras. Na adolescência frequentava para comprar os livros que as professoras mandavam e sempre saía com mais um ou dois clássicos e nos últimos anos frequentei por conta de lançamentos, compras absolutamente necessárias e desnecessárias também, pesquisas e café, muito café.
A moça do caixa após passar meu cartão e colocar meus livros em uma sacolinha de papel reciclado me diz que colocou alguns marcadores de página e eu agradeci. Não imaginei que ali teria assunto para uma conversa muito engraçada e um post no novo blog.
O marcador fazia propaganda de um novo livro da editora Petit, Paixão de Primavera.



Por favor, olhem com atenção o canto superior esquerdo da capa. "Romance do espírito Leon Tólstoi". Esse tal espírito não é ninguém mais, ninguém menos que o autor de Anna Karenina, Guerra e Paz e outros.

Pra começar, porque o Tolstói iria "ditar" um livro para um senhora aqui no Brasil? Porque o Brasil faz parte do BRIC? Porque ele finalmente encontrou alguém que o entendia? A médium é a única no planeta com uma alma simples como a dele? Parece que esta senhora já tem uma relação com o Tolstói, este é o segundo livro "dele", o primeiro foi Leon Tolstoi por ele mesmo. Fico realmente muito curiosa sobre como se dá o fenômeno, mas uma vez que envolve o autor de um dos meus livros preferidos, , A Morte de Ivan Ilicht, a curiosidade vai para o segundo plano de urgências.

Digo isto porque a editora Petit disponibiliza no site a capa, sobre a autora, apresentação e primeiro capítulo em PDF e eu abri. "No mundo dos
espíritos, Tolstói (1828–1910), o grande escritor russo,
continua a produzir obras empolgantes". Confesso que os dois parágrafos que li não me empolgaram...

Se Tolstói escreve do além, em português e desse jeito, eu deveria parar de ler e de estudar literatura.

Além do livro eles montaram também um book-trailer que de Russo e Tolstói não tem nada!
Aqui vocês podem assistir o book-trailer


Enquanto alguém escreve ou lê um livro psicografado, tudo bem! Tem livros dos espíritos-autores com os nomes mais diversos. Agora, não coloque Tolstói e nenhum outro grande autor a seu favor.
Vamos combinar, fiquem aí com seus textos psicografados e eu fico aqui com minha literatura. Afinal, uma coisa é uma coisa e outra coisa, é outra coisa!



sábado, 20 de agosto de 2011

Viagens de menos e estudos a mais

Como parte do projeto "vida nova ou perdendo medos", abandonei meu blog antigo onde apenas contava histórias de viagem para dividir aqui informações sobre as coisas que mais gosto e que podem interessar a meus queridos amigos, colegas e afins. Literatura, Teatro, Cinema, Processo Criativo, Viagens e prazeres!

Para abrir este novo espaço, publico aqui um pequeno conto produzido por mim em uma aula-oficina de criação literária em Junho, do incrível professor Mauricio Salles Vasconcelos.

Pernas
Aline olhava as pequenas luzes do painel se apagando. Uma luz apagava, uma estação passava e eles estavam mais próximos do fim. Fingiam que não eram, ou não foram. Ela sentia a garganta seca e suas pernas perdendo a força. A conversa que já acontecera parecia não ter dado conta de tudo o que tinham vivido até ali, sempre juntos, pelas estações de metro, ruas, livrarias, bares e festas. Suas pernas formigavam, mas ela sabia que em algumas estações levantaria do banco, sairia do lado dele e não se encontrariam mais.
Enquanto as memórias passavam por sua cabeça, mais rápidas que o trem pelos trilhos, ela sentia que já não podia mexer suas pernas. Seus pensamentos sobre ele e as memórias foram substituídas por um desespero que chegou a confortá-la. Ela não podia falar ou levantar dali e percebia que faltava apenas uma luz no painel. Lembrou que tinha pernas lindas, que ele adorava quando usava saias curtas e decidiu ficar. Não posso caminhar sem você. Você deve caminhar sozinha. Ele desceu na estação em que estavam e Aline fez todo o trecho da linha verde por três vezes. Lembrou da felicidade estridente que sentiu ao conhecê-lo e como foram os últimos meses daquilo que acabavam de terminar. Desceu na estação errada e caminhou.